O que é narcisismo?
Você sabe o que é uma pessoa narcisista? Ao contrário do que muita gente pensa, pessoas com o perfil narcisista não são definidas apenas por possuírem autoestima elevada sempre. Eles dependem dos elogios e louvações para conseguirem regular seu amor próprio.
Então, o que é narcisista? Na psicologia, trata-se de um transtorno de personalidade. O Manual MSD define o Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN) como “um padrão generalizado de grandiosidade, necessidade de adulação e falta de empatia”.
Dessa forma, as pessoas narcisistas acreditam realmente que são seres especiais, entretanto, são vistos, muitas vezes, como prepotentes e arrogantes. Além disso, possuem um senso de que tudo o que fazem é excepcional, enquanto menosprezam as conquistas dos demais.
Ademais, não lidam bem com as dores e frustrações que a vida lhes apresenta. Nesse sentido, desenvolvem vícios e compulsões como uma forma de lidar com esses aspectos negativos.
O comportamento narcisista, geralmente, possui as seguintes características: carência por admiração, ausência de empatia e padrão invasivo de grandiosidade. A síndrome de narciso engloba 0,5% da população em geral e é mais comum em homens do que em mulheres.
A comorbidade, ou seja, presença de outros transtornos simultaneamente ao TPN, é comum, principalmente nos casos com depressão, anorexia nervosa, transtorno de abuso de drogas ou outro transtorno de personalidade.
Relações sociais no transtorno narcisista
A inveja é o fator preponderante nas relações pessoais de um narcisista. Essa relação problemática com o outro ocorre pelo sentimento que demonstra pelas conquistas alheias, como também pelo que acredita que os demais sentem por suas realizações.
Dessa forma, não demonstram receptividade e são incapazes de realizar ações de ajuda. Aliás, só procuram auxilar o próximo quando veem algum benefício envolvido, geralmente, buscam notoriedade e reconhecimento.
Uma pessoa narcisista costuma mentir. Então, procurar utilizar contextos e situações de difícil comprovação quando realizam algum argumento. Afinal, exageram e querem parecer grandiosos perante os outros.
Sendo assim, uma das grandes dificuldades de convivência com os narcisistas é a tendência em desvalorizar e humilhar outras pessoas para elevarem a si mesmos. Muitos agem com agressividade quando não conseguem a adulação desejada ou quando se sentem inferiores.
Narcisismo: história do mito
Assim como na literatura, o mito de Narciso também embeleza canções. Em “Sampa”, o ícone da MPB, Caetano Veloso, compôs “É que Narciso acha feio o que não é espelho”. Mas quem é esse tal Narciso cujo mito serviu de reflexo para tantas obras e inspirou o nome do transtorno na psicologia?
A mitologia grega guarda as mais fabulosas e belas histórias e a de Narciso não seria diferente. Quando nasceu o filho do deus do rio Cefiso e da ninfa Liríope, o oráculo Tirésias alertou que a criança de nome Narciso teria uma longa vida, desde que nunca visse seu próprio rosto. Já adulto e dotado de grande beleza, o jovem Narciso despertava amor por onde passava, porém seu orgulho e arrogância afastavam e menosprezavam todos os pretendentes.
Uma dessas a se apaixonar por Narciso foi a ninfa Eco, que, ao ser desprezada, rogou à deusa Némesis uma lição ao rapaz. Ela condenou Narciso a se apaixonar pelo próprio reflexo na lagoa de Eco e, fascinado pela sua própria beleza, deitou-se no leito do rio e definhou. Outra versão do mito nos conta que, ao apaixonar-se pela própria imagem, se lançou nas águas em busca desse amor e morreu afogado. Nasceu, então, o cunho da pessoa narcisista.
O Perfil Narcisista e Freud
O narcisismo na psicologia teve o pai da psicanálise como precursor. Sigmund Freud introduziu o termo narcisismo no discurso psicanalítico, em 1910, acerca da sexualidade e da homossexualidade.
Tratava-se, na verdade, de uma nota de rodapé acrescida naquele ano aos seus Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, na qual se encontra dito que eles “partem de uma base narcísica e procuram um rapaz que se pareça com eles próprios e a quem eles possam amar como eram amados por sua mãe” (FREUD, 1905/1972, p.145-146).
Estágios do narcisismo
Anos mais tarde, o psicanalista aponta que o narcisismo é um estágio comum no desenvolvimento sexual humano. Na infância, há uma fase nomeada por Freud de narcisismo primário, que é a fase em que os primeiros desejos libidinosos ocorrem e são satisfeitos pelo indivíduo no próprio corpo.
A segunda fase dá quando o indivíduo se dá conta de que existem outras fontes de interesse e satisfação. “É dessa forma, pois, que a criança entra no segundo estágio de narcisismo, ao qual Freud denominou de narcisismo do ego ou narcisismo secundário, porque foi retirado dos objetos a partir dos processos de identificação com as figuras parentais ou seus representantes”, explica Maria das Graças Araújo, do Círculo Brasileiro de Psicanálise.
Para Freud, “tudo o que uma pessoa possui ou realiza, todo remanescente de sentimento prematuro de onipotência que sua experiência tenha confirmado, ajuda-a a aumentar a sua autoestima” (1914/1974, p.115).
Dessa forna, a autoestima depende de três aspectos principais, segundo o psicanalista: “ O primeiro deles é o resíduo mesmo do narcisismo infantil, o segundo decorre das realizações do ideal do ego que corroboram a onipotência infantil, e o terceiro provém da satisfação da libido objetal, ou seja, de relações amorosas satisfatórias”, escreveu Araújo.
Causas do narcisismo patológico
O narcisismo pode incidir de diferentes maneiras. Dessa forma, não é preciso responder qual a condição determinante do transtorno, entretanto, é possível verificar a influência de algumas fatores, como: genéticos, neurobiológicos e do meio ambiente.
Por não haver tantas pesquisas acerca dos fatores genéticos existentes nas causas do transtorno, há um consenso de que um componente hereditário significativo seja um dos elementos causadores da TPN.
Além disso, é possível verificar em algumas ocasiões uma modificação biológica no indivíduo, que é capaz de dissociar alguns comportamentos e pensamentos realizados pela pessoa narcisista.
Ainda, o ambiente de desenvolvimento é fundamental para o transtorno. Nesse sentido, pais que adulam excessivamente os filhos por meio de elogios ou críticas excessivas, podem contribuir para o aparecimento do transtorno.
“Alguns pacientes com esse transtorno têm dons ou talentos especiais e tornam-se acostumados a associar sua autoimagem e senso do eu à admiração e estima dos outros”, aponta o MSD. Porém, é preciso tomar cuidado para não confundir amor próprio com narcisismo.
Narcisista: sintomas de narcisismo
Você sabe como identificar um narcisista? Bem, para isso precisamos conhecer quais são os sintomas do TPN. Aliás, reconhecer tais padrões é fundamental para buscar ajuda o mais rápido possível.
Dessa forma, o Manual MSD listou alguns dos principais sintomas do transtorno de personalidade narcisista:
Uma sensação exagerada e infundada da sua própria importância e talentos (grandiosidade);
Preocupação com fantasias de realizações ilimitadas, influência, poder, inteligência, beleza ou amor perfeito;
Convicção de que eles são especiais e únicos e devem associar-se apenas com pessoas do mais alto calibre;
Necessidade de ser incondicionalmente admirado;
Uma sensação de merecimento;
Exploração dos outros para alcançar objetivos próprios;
Falta de empatia;
Inveja dos outros e convicção de que outros os invejam;
Arrogância e altivez.
Narcisismo e poder
Sabemos o que significa narcisista, mas qual a sua ligação com o poder? A relação entre esses dois fatores está intrinsecamente conectada. Afinal, a busca pelo poder é uma condição narcisista.
Atualmente, vivemos numa cultura que idolatra a imagem própria, além de estimular o engrandecimento do ego. Sendo assim, as pessoas passam a endeusar o poder capaz de amplificar todo esse contexto.
O narcisismo está presente em todos, numa escala variável entre o saudável e o nível alarmista. As pessoas que se encaixam no significado da palavra narcisista buscam o poder independentemente dos limites éticos e morais.
Tais indivíduos não conseguem viver sem adoração constante, por isso, buscam o poder como uma forma de garantir a platéia e os elogios. Nesse sentido, é importante prestar atenção nessas movimentações.
Como lidar com narcisista
Apesar de entendermos o que significa uma pessoa narcisista, ainda precisamos compreender como lidar com ela. Logo de início, sabemos que a relação pode não ser das melhores, entretanto, é possível progredir esse quadro para algo saudável.
Desse modo, é fundamental ter empatia e paciência com esses indivíduos. Afinal, eles não agem assim porque querem. Eles não possuem a intenção de machucar os demais, por isso, é preciso calma e tranquilidade para conviver. Nesse sentido, é importante enfatizar estar ali para apoiá-los.
Além disso, as pessoas mais próximas desempenham um papel de identificar o problema e discutir a questão junto com a pessoa. O transtorno de personalidade narcisista pode ser tratado, então, esse amparo é imprescindível nesse momento.
Tratamento do transtorno de personalidade narcisista
Já sabemos o que é ser narcisista, entretanto, qual é o tratamento correto para essa condição? Bem, não existe uma única resposta correta, mas alguns caminhos que, geralmente, são percorridos.
Não há medicamento específico para tratar o TPN, porém, os remédios são utilizados para diminuir alguns reflexos que o distúrbio pode estar causando, como no caso da ansiedade e depressão.
A psicoterapia é o tratamento mais indicado para esse tipo de transtorno. A abordagem cognitiva-comportamental é uma delas, já que permite a participação ativa do paciente no seu próprio tratamento através de técnicas guiadas pelo psicólogo que transformam o pensamento e, por vez, refletem no comportamento. O Manual MSD também sugere a psicoterapia psicodinâmica como fonte de tratamento pois “focaliza os conflitos subjacentes”.
Fonte
Telaviva
Comments